terça-feira, 21 de junho de 2016

A vida é que é hercúlea - sobre a obra "Os Doze Trabalhos de Hércules"


Nosso imaginário cultural tem na figura de Hércules o grande herói que vence pela força. Na língua portuguesa temos o adjetivo “hercúleo”, que pode designar algo que é extraordinário, excepcional, fabuloso como Hércules.
Ao lermos a mitologia grega, porém, vamos ver que Hércules é muito mais do que alguém com extraordinária força e valentia. Hércules cresceu forte. Ou seja, desde cedo, observou-se suas potencialidades físicas. Mas é interessante observar que ele cresceu também intempestivo. Se fisicamente forte, emocionalmente era frágil: reagia de modo inesperado e quase sempre inoportuno. Sua vida foi marcada por situações extremas em consequência de duas de suas características: força e fragilidade desmedidas. 
Adulto, Hércules destrói sua família: mata esposa e filhos, tomado por furor, raiva e demência que a deusa Hera lhe enviou como vingança. Ou será que Hércules não suportou as dificuldades da construção diária de um lar e usou sua maior qualidade - a força- para acabar com tudo? Seria, sem dúvida, um caminho mais rápido, a despeito do quão trágico seja.
Seja como for, Hércules voltou a si e se arrependeu. Para se redimir, foi submetido aos mandos do rei Euristeu, que lhe imputou terríveis trabalhos. Parecia que, tomado de inveja pela força descomunal de Hércules, Euristeu desejava mostrar-lhe que ela não era tão fenomenal assim. Obviamente, Euristeu não era um sábio, desejando provocar reflexões em Hércules. Era apenas alguém que em medíocre inveja se ocupa de perturbar o outro.
Fato é que, é possível perceber que a força física de Hércules não era mesmo fenomenal, no sentido de ser um valor que lhe fizesse superar todos os obstáculos. Lendo atentamente o que ficou conhecido como “os doze trabalhos de Hércules”, descobrimos que alguns não foram resolvidos pelo personagem; outros necessitaram mais de inteligência do que de força; para uns, Hércules precisou de astúcia, para outros, de paciência. 
Para mim, aí está a grande lição sobre esse herói: em cada um de nós, há muitas forças e fraquezas. Saber reconhecer cada uma delas é importante para alcançarmos vitória – seja qual for a nossa “competição”. Prefiro os significados do adjetivo hercúleo como “aquilo que demanda um esforço excessivo; que é muito árduo ou difícil de ser realizado”. Algo que necessita de determinação, mas que não pode abrir mão da dedicação e do sacrifício – Hércules mostra bem isso.
Por fim, lembrar de que contar com o outro é sempre necessário – lição que o personagem também nos ensina. As redes de relações podem nos fortalecer, fazer-nos enxergar nossas dificuldades pessoais e descobrir no outro algo que nos falta.

Hércules partiu sozinho para realizar sua missão, contando com sua força descomunal. Venceu seus desafios. Mas precisou identificar em si outras características valiosas, além de ter descoberto parceiros pelo caminho. Tomara que meus alunos adolescentes, com quem li essa obra, possam compreender essa beleza da vida: é ela quem é hercúlea; por isso, precisamos reunir todo tipo de força – tanto a física quanto a emocional – para superar as dificuldades e cumprirmos as missões que formos recebendo, algumas vezes sozinhos, mas muitas vezes em parceria.

“Se você quer ir rápido, vá sozinho.
Se quer ir longe, vá acompanhado.”

Provérbio africano

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